Se estou digitando este texto agora, é porque antes escrevi no papel como um exercício de voltar ao hábito.
Como muitos, passei a digitar mais do que escrever, até quase esquecer como se pega num lápis.
Mas, ao mesmo tempo, buscava algo além do tac-tac-tac.
Foi aí que, em junho de 2021, assim que cheguei a Portugal, senti a necessidade de explorar mais a minha criatividade e manualidade.
Comprei argila e comecei a fazer cerâmica. Isso era o que eu gostava de pensar.
Na verdade, eu não tinha ideia do que estava fazendo, sem intenções de me tornar ceramista, mas era terapêutico.
Sou de 97, então, imagina, vivi uma transição geracional: brinquei na rua, esperei pelos horários dos meus programas de TV favoritos, aluguei fita cassete, fiz arte no Paint.
Coisas que as próximas gerações só vão conhecer nos livros de história. Falando assim, me sinto até um dinossauro.
Mas é que as crianças já estão crescendo sabendo acessar o canal do YouTube antes mesmo de saberem ler, com uma capacidade de decodificação que parece extraterrena.
Eu não sou nenhuma especialista em desenvolvimento infantil, então por que estou falando disso?
O que quero dizer é que, assim como as crianças da nova geração, fui aderindo novos hábitos, como quem faz uma atualização de software, e acabei deixando o hábito da escrita de lado.
A diferença entre eu e essas crianças é que tenho uma memória muscular de uma época em que se pesquisava em livros e se transcrevia em papel pautado.
Ou seja, isso significa que eu sentia falta de exercitar uma parte do cérebro que estava em desuso.
Foi quando voltei a escrever e tive a consciência do tanto que a escrita me faz bem. Lembrei do quanto amo a seção de papelaria das lojas e, embora às vezes eu não saiba por onde começar um texto, basta caneta e papel para o bloqueio criativo passar.
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